Ansiedade: quando o perigo não está fora, mas dentro.
Descrição Uma história que mostra como a ansiedade pode ser só a ponta de algo mais profundo. Através do caso de Marina, entenda por que sentimos tanto medo antes mesmo de algo acontecer — e como a psicanálise pode ajudar a escutar o que está por trás desse sintoma. do post.
Paloma O. Anaya
6/24/20252 min read


Não sei explicar… só sinto essa angústia antes de tudo acontecer.”
Marina tem 31 anos e trabalha numa agência de publicidade. Inteligente, dedicada, criativa. Mas sempre que precisa se apresentar em público — mesmo que seja para mostrar uma ideia genial que ela mesma criou — seu corpo reage como se estivesse diante de uma ameaça de vida ou morte.
Falta ar. O coração dispara. As mãos suam. Vêm pensamentos catastróficos: “vou travar”, “vão rir de mim”, “vou passar vergonha”. E então, ela evita. Ou vai, mas com uma angústia tão grande que só quer que acabe logo.
Ela chegou à terapia dizendo:
“É como se eu tivesse medo de sentir medo. O que me dá mais pavor nem é a apresentação em si — é a ansiedade que eu sei que vem antes.”
Esse é o ponto central da ansiedade: ela aparece antes. Antes do evento, antes do risco real, antes do perigo concreto.
Mas o que Marina, e tantas outras pessoas, não sabiam, é que o medo não é daquilo que parece ser.
A apresentação em público não é o problema. Ela é só o gatilho.
O verdadeiro medo está escondido — e costuma ecoar experiências passadas que ainda vivem, inconscientes, dentro de nós.
Com o tempo e com a escuta da análise, Marina começou a se lembrar das vezes em que, ainda menina, gostava de brincar de “ser artista”. Subia num banquinho, criava coreografias, imitava cantoras famosas. Amava ser o centro das atenções.
Mas sua mãe dizia:
“Para com isso, tá se exibindo demais. Que coisa feia.”
E Marina aprendeu que mostrar-se, brilhar, chamar atenção era algo errado, até vergonhoso.
O desejo de se exibir — que é algo tão humano e natural — precisou ser escondido. Reprimido. Esquecido.
Mas o desejo não desaparece. Ele volta.
E volta, muitas vezes, disfarçado de ansiedade.
A apresentação de trabalho não é só uma tarefa. É um palco. E inconscientemente, Marina sente que está fazendo algo proibido.
Como se a mãe estivesse ali, julgando.
Como se o desejo fosse errado. Como se brilhar ainda fosse perigoso.
Assim, o medo não é do evento. É do desejo. É do que ele evoca.
E a ansiedade aparece como um alarme, anunciando algo que nem sempre conseguimos nomear.
Ao longo do tratamento, Marina foi percebendo essas conexões.
Primeiro, estranhando. Depois, reconhecendo.
Até que chegou o dia em que, prestes a fazer uma nova apresentação, ela pensou:
“Não tem perigo aqui. Não tem mãe me podando. O que tem é desejo. E talvez, agora, eu possa me permitir um pouco dele.”
E naquele dia, ainda com frio na barriga, ela apresentou.
Mas algo era diferente.
Ela estava ali, por inteiro. Pela primeira vez, não contra o medo — mas com ele.
A ansiedade costuma esconder histórias antigas.
Por isso, o caminho não é calar o sintoma — mas escutá-lo.
E com tempo, cuidado e vínculo, é possível encontrar o que ele está tentando dizer.
