Como um Prédio em Chamas: O Que o Burnout Está Fazendo com Você?

A história de Marina te convida a refletir: você se sente em um "prédio em chamas", perdendo o gosto pela vida e pelo trabalho? Entenda o Burnout sob uma perspectiva psicanalítica, os sintomas que vão além do cansaço físico e como a busca por reconhecimento é crucial para sua saúde mental. Descubra como a terapia pode te ajudar a resgatar o sentido e reescrever sua história.

Paloma O. Santos

7/29/20254 min read

Como um Prédio em Chamas: O Que o Burnout Está Fazendo com Você?

Ela se chama Marina. Tem 42 anos. É professora há quase uma década. Já deu aula em tudo quanto é canto — escola pública, particular, ensino médio, fundamental. Ama o que faz. Sempre amou. Mas ultimamente, alguma coisa mudou. Marina acorda cansada, mesmo depois de dormir. A cabeça falha, a memória escapa, e ela se pega esquecendo nomes, tarefas, até conversas importantes. Às vezes sente que está dentro de um prédio em chamas. Vai dando aula, preenchendo planilhas, preparando atividades — enquanto, por dentro, tudo vai se consumindo. É como se sua vida interna estivesse desabitada.

Ela já não sente prazer no que antes a motivava. Se esforça, mas sente que nunca é suficiente. A culpa aparece. A impotência também. E o pior: parece que ninguém percebe. Ninguém valida. Ninguém reconhece. A sensação de ser substituível, de que poderia sumir e nada mudaria, dói mais do que o cansaço físico. E mesmo assim, Marina continua. Porque é comprometida. Porque se importa. Mas a pergunta que ronda seus dias é: até quando?

"Na síndrome de Burnout, a pessoa vai perdendo o gosto, o interesse, a capacidade, a potência de fazer e refazer a sua biografia" — Christian Dunker. Essa frase ecoa profundamente em muitos de nós, especialmente na rotina desgastante dos dias atuais. Você já se sentiu como um edifício em chamas, consumindo-se interiormente, perdendo a troca com o outro e consigo mesmo?

Muitas vezes, a exaustão que experimentamos no trabalho vai além do cansaço físico. É um cansaço crônico que persiste mesmo após o descanso, sinalizando que algo mais profundo foi abalado. O Burnout não é simplesmente uma fadiga passageira, mas um esgotamento que afeta nossa capacidade de viver e nos relacionar. Ele se manifesta em sentimentos de derrota e desesperança, incompetência, alterações de humor, fadiga, dificuldades de concentração, fracasso, insegurança, negatividade e isolamento. A nível físico, pode causar cansaço excessivo, dores de cabeça, alterações no apetite, insônia, pressão alta, dores musculares, problemas gastrointestinais e alterações nos batimentos cardíacos.

A Ilusão de Controle e a Pressão Diária

Em um universo que cria crises, anomia e confusão para vender segurança, muitas vezes nos vemos presos em uma construção de ilusão de controlabilidade. Essa ilusão nos leva a acreditar que, se não alcançamos o que almejamos, a culpa é exclusivamente nossa. Professores, por exemplo, enfrentam essa realidade de perto. São avaliados por alunos , bombardeados com tarefas em excesso , e trabalham muitas vezes em duas ou três escolas, gerando um cansaço avassalador. A falta de recursos básicos nas escolas agrava ainda mais essa situação.

O paradoxo do Burnout é que ele atinge frequentemente os profissionais mais engajados e comprometidos. Aqueles que verdadeiramente amam o que fazem, investem profundamente em seu trabalho e são convocados ao afeto, são os que mais adoecem. Quanto maior e mais elevada a carga horária, maior o sentimento desgaste emocional, e menor o sentimento de realização com o trabalho. Isso leva à despersonalização, onde o indivíduo perde o contato consigo e com os outros, sentindo-se irrelevante e substituível.

Burnout: Sintomas e Quem Mais Atinge

A depressão é um dos subprodutos da pressão do trabalho. Essa pressão constante e a falta de validação, de reconhecimento do significado do que se faz, contribuem para que a pessoa se sinta invisível e não relevante. É uma exaustão que não passa, mesmo com descanso, um cansaço crônico que excede as condições humanas.

Curiosamente, o Burnout é mais prevalente em mulheres e em professoras mais jovens, que têm uma alta expectativa de sucesso e acabam frustradas. Além disso, quem não tem filhos parece ter uma maior propensão ao Burnout, pois a família pode servir como um recurso de enfrentamento, oferecendo ferramentas para lidar melhor com o cansaço.

Resgatando o Sentido e a Biografia

O que o meu trabalho é para mim? O meu trabalho é fonte de vida, de realização, de descoberta, de encontro com o outro? Ou meu trabalho tem sido a exposição ao sol que queima, a dor que esgota? O trabalho pode ser uma fonte de vida, realização e descobertas, um meio para nos inventarmos e transformarmos o mundo e a nós mesmos. No entanto, quando o trabalho se torna uma exposição ao sol que queima e uma dor que esgota, algo precisa mudar.

A saúde mental no trabalho é, antes de tudo, uma questão de reconhecimento. É preciso resgatar o sentido do que fazemos. Se você se identificou com essa sensação de estar perdendo a capacidade de fazer a sua própria biografia, de se sentir consumido e com a vida interna desabitada, a psicanálise pode ser um caminho para resgatar esse sentido.

Através da terapia, podemos explorar as raízes dessa exaustão, entender como a busca por controle nos aprisiona e como as pressões externas se internalizam, levando ao sofrimento. Meu trabalho é ajudar você a se reconectar consigo mesmo, a reencontrar o gosto e o interesse pela vida, e a refazer a sua biografia. Porque a resposta do estresse nada mais é do que uma tentativa do seu cérebro de te colocar em movimento. Que tal dar o primeiro passo para esse movimento?