Por que é tão difícil dizer "não"? — Quando agradar o outro custa a própria identidade
Você tem dificuldade de dizer “não”? Vive agradando os outros, mesmo se sentindo exausta e invisível? Neste texto, explicamos com base na psicanálise por que isso acontece, o que há por trás dessa necessidade de aprovação e como o tratamento pode ajudar a recuperar sua autoestima, aprender a impor limites e viver com mais autenticidade.
Paloma O. Anaya
7/15/20252 min read


"Se eu disser não, será que ainda vão gostar de mim?"
Nádia,34 anos, chega ao consultório exausta. Ela sorri muito, fala com doçura, mas carrega nos olhos um peso silencioso. Durante a sessão, desabafa:
— Eu não sei dizer não. Para ninguém. No trabalho, em casa, com os amigos... Eu só quero que me vejam como alguém boa, útil, confiável. Mas por dentro, eu tô me sentindo pequena. Cansada. Às vezes, até com raiva — e logo depois me sinto culpada por isso.
Talvez você também já tenha sentido algo parecido. Uma dificuldade quase física de negar um pedido, mesmo que ele custe sua paz, seu tempo, sua saúde mental.
Mas o que há por trás dessa dificuldade?
O desejo de ser amada — a qualquer custo
Na psicanálise, entendemos que muitas pessoas que não conseguem dizer “não” cresceram em ambientes onde precisaram se tornar aquilo que o outro precisava que elas fossem.
São filhos que viram seus desejos colocados de lado para suprir o vazio emocional dos pais. Crianças que foram tratadas como “objetos compensatórios”, que faziam os adultos felizes — e, em troca, ganhavam amor e reconhecimento.
Só que esse lugar, que parecia seguro na infância, se torna uma prisão na vida adulta. Afinal, o medo de decepcionar, de ser criticado ou rejeitado, continua guiando as decisões.
Quando o “sim” constante é uma tentativa desesperada de ser vista
Por trás da dificuldade de dizer “não”, muitas vezes existe uma ferida:
a falta de reconhecimento dos pais,
a ausência de valorização na infância,
uma sensação de que o que você sente ou deseja não é legítimo.
E assim você cresce achando que precisa ser perfeita para merecer amor. Que só será digna se for sempre compreensiva, disponível, sorridente.
Mas a verdade é que dizer sim o tempo todo pode ser um grito silencioso de desespero.
O olhar do outro se torna lei
Pessoas como a Nádia (e talvez como você) vivem sob o domínio de um superego severo — uma voz interior crítica, construída a partir de pais exigentes ou controladores.
Essa parte da psique diz coisas como:
“Você tem que agradar.”
“Se errar, ninguém vai te amar.”
“Se recusar, será vista como egoísta.”
A consequência? Uma autocrítica feroz, culpa constante e medo angustiante de decepcionar. Mesmo quando fazem tudo certo, sentem que não é suficiente.
Mas... e você? Quando se escuta?
Pense por um momento:
Por que você valoriza tanto as demandas dos outros e ignora as suas?
Quando foi que você aprendeu que o seu desejo não era importante?
Como era para você dizer o que queria na infância? Você podia escolher ou só obedecer?
Revisar essas memórias com cuidado e acolhimento é um caminho para se libertar
A cura não está em “endurecer o coração” — mas em fortalecer a autoestima
Na clínica, não buscamos “castrar o gozo narcisista” de quem vive para agradar.
A proposta é outra: oferecer um espaço afetivo seguro, onde a pessoa possa se reconstruir por dentro.
É nesse ambiente que, pouco a pouco, você aprende:
Que tem direito a dizer “não”.
Que o olhar negativo do outro não define quem você é
Que o amor que vale é aquele que te permite existir inteira — com limites, com escolhas, com voz.
Você não precisa continuar agradando para ser amada.
Assim como Nádia, talvez você esteja pronta para deixar de viver pelos outros, e começar a viver por si.
A psicanálise pode te ajudar nesse processo.Marcar uma sessão não é egoísmo — é um ato de cuidado com a sua história.
Vamos conversar?
